Os grandes projetos de pesquisa, como os que implicam viagens ao espaço ou às profundezas do oceano, costumam virar notícias, mas existem outros de menor tamanho que não chamam tanta atenção. Detrás deles há histórias de superação, busca de respostas e o desafio de melhorar o ambiente em que vivemos, trabalhando em aspectos cotidianos como a segurança viária, os seguros e a saúde. Nestas páginas, relatamos algumas dessas histórias, uma seleção dos projetos patrocinados pela Fundación MAPFRE para a convocatória 2016 de Auxílios à pesquisa de Ignacio H. de Larramendi.

TEXTO JUAN RAMÓN GOMEZ                       FOTO DE CAPA THINKSTOCK

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Emergências nas cidades patrimônio da humanidade

A Espanha possui um grande capital em cidades reconhecidas como patrimônio da humanidade, que são visitadas por milhões de turistas todos os anos. Nada menos que quinze localidades engrossam esta lista. Seus conjuntos históricos têm uma grande afluência de público o dia inteiro, geralmente com traçados sinuosos, ruas estreitas e áreas para pedestres que ficam cheias de veículos em horário de carga e descarga. Para o turismo, que tanto peso tem em suas economias, as cidades patrimônio da humanidade carecem de uma uniformidade de critérios para organizar sua segurança.

Ao detectar essa necessidade, a equipe liderada pelo engenheiro Andrés Pedreira Ferreño decidiu criar um guia para unificar esses critérios e agrupar todas as informações disponíveis destas cidades: “Nosso projeto analisará minuciosamente os problemas de acessibilidade e segurança enfrentados pelos serviços de emergências e salvamento nesses conjuntos históricos que, às vezes, são provocados pelos próprios elementos que visam melhorar a mobilidade. Planejaremos as rotas de acesso para estabelecer as mais curtas até o local do possível incidente, definindo quais veículos podem acessar determinados lugares e por onde devem ir”.

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Para o turismo, que tanto peso tem em suas economias, as cidades patrimônio da humanidade carecem de uma uniformidade de critérios para organizar sua segurança

O guia resultante deste projeto levará em conta que os pedestres estão envolvidos em uma porcentagem elevada dos acidentes que ocorrem neste tipo de cidades, analisará outros riscos como o incêndio e propiciará conteúdo a um app “para facilitar o uso dessas informações e alcançar um público maior”.

Pedreira se envolveu com uma equipe de pesquisa multidisciplinar com uma ampla trajetória na gestão de centros históricos. Mariluz García contribui com um projeto de gestão em Cáceres bastante semelhante aos objetivos propostos e que serve como uma base para a elaboração do guia. Carlos García Touriñán tem uma ampla experiência prática sobre o terreno, enquanto Pedreira contribui com a engenharia e suas aplicações. Além disso, contam com dois arquitetos técnicos e um arquiteto especializado na gestão do movimento de pessoas.

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Tornar o setor de seguros atrativo

Você trabalharia em uma companhia de seguros? Parece, inclusive, que a própria pergunta é pouco atrativa para os jovens em busca de emprego e para os universitários e estudantes de pósgraduação. E, de acordo com Jorge Martínez Ramallo, diretor executivo do Center for Insurance Research da IE University, o setor oferece condições objetivamente favoráveis como empregador em termos de estabilidade, benefícios sociais e desenvolvimento profissional. Com esta premissa, decidiu liderar um projeto de pesquisa para analisar “em que medida as causas desse atrativo reduzido como empregador giram em torno do desconhecimento destas circunstâncias objetivas e em qual se devem a percepções generalizadas da sociedade”.

E diz isso por experiência própria: “Quando você pergunta a estudantes universitários de matemática, engenharia ou qualquer outra especialidade científica se eles gostariam de trabalhar em seguros, só pela cara que fazem, percebe-se que essa possibilidade não passou pela cabeça deles. Na verdade, estas pessoas poderiam ter carreiras muito interessantes”.

Com mais de 20 anos de experiência no setor de seguros, muitos deles em responsabilidades de recursos humanos em nível nacional e internacional, Martínez Ramallo descreve a criação do Centro de Pesquisa do IE como “uma ótima oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do conhecimento no setor de seguros e sua divulgação”, e explica: “o employer branding influi na capacidade de atrair talento por parte das entidades seguradoras e, em última instância, na produtividade e no desenvolvimento profissional desse talento”. Para seu projeto, conta com profissionais de seguros como Ana Díez Brezmes, e professoras do IE como Margarita Mayo e Pilar Rojo, que ajudarão a “aproximar a pesquisa ao mundo empresarial, para que o fruto da pesquisa possa ser de máxima utilidade no setor de seguros”.

Martínez Ramallo acredita que seu projeto foi escolhido pela Fundación MAPFRE porque “se trata de una questão bastante atual em um setor que tem entre suas prioridades melhorar sua imagem na sociedade. Analisar e contribuir para aumentar o atrativo do setor como empregador é um elemento importante para essa melhora de imagem”. Não teremos que esperar muito para conhecer suas conclusões, que ficarão prontas no final deste ano

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As referências culturais podem afetar a segurança viária

As informações que recebemos na nossa vida cotidiana pode influir na nossa forma de conduzir e, assim, afetar a segurança viária. É a premissa da qual parte a pesquisa de Eusebio Megías, diretor técnico da Fundação de Ajuda Contra o Vício de Drogas (FAD), sobre referências culturais e riscos na condução. “A comunicação social, da qual faz parte o clima da mídia, a publicidade, os audiovisuais, etc., influi claramente na construção das atitudes e dos estilos de vida”, explica. “Portanto, influem nos valores que intervêm na forma de conduzir e de ser conduzido no trânsito. Portanto, é necessário analisar os principais conteúdos dessa comunicação social para poder intervir de forma positiva e educativa para melhorar as condições desse trânsito”.

Foi sua experiência na FAD que lhe demonstrou que o comportamento das pessoas é determinado não apenas pelas informações ou pelo conhecimento dos riscos de conduta: “Existem elementos subjacentes, de atitudes, éticos, ideológicos, valorativos, que influem na construção da conduta. É importante conhecê-los e levá-los em conta”. Megías conhece bem a influência desses elementos subjacentes nos comportamentos de risco, sobretudo no consumo de drogas, e assegura: “Não seria difícil estender essa experiência aos riscos da condução”. Para este projeto, se envolveu com uma equipe de sociólogos e psicólogos com ampla experiência na análise das culturas juvenis, dos valores, da construção dos riscos e das condições para os fatores de proteção. “A equipe ideal, por conhecimento e experiência, para este projeto”, afirma.

“A comunicação social, da qual faz parte o clima da mídia, a publicidade, os audiovisuais, etc., influi claramente na construção das atitudes e dos estilos de vida»