Os dados sobre o desemprego e o aumento da pobreza são assustadores em toda a Europa e, especificamente, na Espanha. Por isso, entidades públicas e privadas, como a Fundación MAPFRE, têm priorizado as campanhas de apoio alimentar a grupos em situação de risco.

TEXTO: CRISTINA BISBAL IMAGENS: FUNDACIÓN MAPFRE, ISTOCK

Os estragos da COVID-19 não são apenas na saúde. De acordo com a Pesquisa de População Ativa (EPA) divulgada em fevereiro deste ano, a Espanha fechou 2020 com uma taxa de desemprego de 16,2%. Esse número talvez não nos dê uma ideia concreta da extensão do problema, mas se falamos em números absolutos é possível que seja mais impressionante. Mais especificamente, nos referimos a 3.964.353 pessoas que estão desempregadas atualmente, ou seja, não recebem nenhum salário. E a perspectiva de encontrar um novo emprego não é boa. Definitivamente.

A COVID-19 causou uma recessão histórica e não se espera nenhuma melhoria evidente até, pelo menos, o final de 2022. Neste contexto, não é de se surpreender que a taxa de pobreza esteja aumentando em toda a Europa. Olivier de Schutter, Relator Especial das Nações Unidas sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos na União Europeia, apresentou há algumas semanas as conclusões preliminares de sua missão na União Europeia, e os resultados são assustadores. Mais de 92,4 milhões de pessoas – 21,1% da população – continuam em risco de pobreza na UE-27. No total, 19,4 milhões de crianças se encontram em risco de pobreza em toda a União Europeia.

Como afirma o Relator, esses números escondem rostos, «los das mães solteiras para as quais é praticamente impossível conciliar responsabilidades de trabalho e cuidado, adultos jovens que nunca terminaram os estudos e não conseguem encontrar uma renda formal ou estável, e pessoas que não podem trabalhar devido a sua condição de saúde… Ouvi testemunhos de pessoas que vivem na pobreza em todos esses grupos, que me disseram que gostariam de continuar estudando, mas não podem porque não têm meios para sustentar a si mesmos e a suas famílias; que essa é a primeira vez em suas vidas que passam fome; que são submetidas a maustratos, como forma de controle e punição, em cada interação com as administrações».

A situação na Espanha não é muito diferente. Muito pelo contrário, a Espanha falhou em seu compromisso com a Estratégia 2020 de reduzir a pobreza em 1,5 milhão de pessoas. Esses dados são extraídos do recente relatório ‘Arope

(At-Risk-Of Poverty and Exclusion)’, elaborado pela Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN). Nos últimos dez anos, a Europa não apenas não reduziu a pobreza, como agora há mais pessoas vivendo essa realidade do que havia há uma década atrás. Só na Espanha, 12,3 milhões de pessoas (26,1% da população) se encontram em risco de pobreza ou exclusão social. E atenção: esse relatório foi elaborado a partir de dados coletados entre 2008 e 2019. Ou seja, são de antes da pandemia e, portanto, não aparecem grupos que este ano se juntaram aos setores mais desfavorecidos: autônomos ou pequenos empresários pertencentes ao mundo da cultura; hoteleiros com empresas falidas, donos de lojas de souvenirs que viviam do turismo, agências de viagens… Pessoas que não recebem qualquer ajuda e que, pela primeira vez na vida, se viram obrigadas a pedir para sobreviver.

Diante de números dramáticos, precisamos contribuir para nos aproximarmos do cumprimento de um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 2) da Agenda 2030: fazer com que não haja mais fome no mundo

O relatório divulgado pela Oxfam em janeiro passado inclui a devastação econômica pós-COVID. Nele são incluídas as 790.000 pessoas que se estima que caíram na pobreza extrema na Espanha nos últimos 12 meses. «Migrantes, jovens e mulheres são os grupos mais afetados pela desigualdade causada pela pandemia». Em contrapartida, as mil pessoas mais ricas do mundo já recuperaram as perdas econômicas causadas pela COVID-19.

Diante desses números dramáticos, precisamos contribuir para nos aproximarmos do cumprimento de um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 2) da Agenda 2030: fazer com que não haja mais fome no mundo. A própria Organização das Nações Unidas garante que, atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo está desnutrida: cerca de 815 milhões de pessoas. E alerta que, se as tendências recentes continuarem, o número de pessoas afetadas pela fome ultrapassará 840 milhões de pessoas até 2030.

Mãos à obra contra a fome

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são parte fundamental do trabalho da Fundación MAPFRE. Sem dúvida, o ODS 2 é um dos que mais preocupa a instituição, agora mais do que nunca. Milhares de pessoas se encontram em situação de necessidade alimentar pela primeira vez em suas vidas devido à pandemia. O apoio alimentar a grupos em situação de risco tornou-se uma prioridade para a Fundación MAPFRE. Por isso, seus responsáveis ampliaram as iniciativas solidárias, públicas e privadas, com as quais colaboram.

De todas as campanhas lançadas pela Fundación, o Cartão de Alimentação Familiar da Fundación MAPFRE foi, sem dúvida, a mais espetacular. Com um valor total de um milhão de euros, seus portadores (3.400 famílias) puderam trocá-los por até 100 euros em bens de primeira necessidade, nos mais de 800 pontos de venda do Carrefour em todo o país. As entidades sociais colaboradoras do programa Sé Solidário se encarregaram de distribuí-los de acordo com as situações de maior risco social.

Também existem projetos que se concentram em partes específicas do país. Um deles é o ‘Contra a pobreza alimentar em Extremadura’, graças ao qual seis entidades assistenciais de Extremadura são beneficiadas com apoio financeiro para a compra de alimentos básicos, especialmente produtos frescos e proteínas, que são posteriormente distribuídos por organizações como Hijas de la Caridad; San Vicente de Paúl; ONG Zafra Solidaria; Cruz  Cáritas de Plasencia; Navalmoral de la Mata y Trujillo; e pela Fundación San Juan de Dios de Almendralejo.

A Fundación MAPFRE também apoia os mais necessitados na cidade de Madrid por meio de diversas campanhas e colaborações. Por exemplo, com a CESAL, apoia o projeto “Que ninguém fique para trás: Emergência STOPCORONAVIRUS”, da Câmara Municipal de Madrid. Graças a ele, 1.000 pessoas em situação de vulnerabilidade social recebem uma refeição diária com a distribuição de marmitas no Gastrolab Villaverde. O projeto do Centro de Acolhimento e Integração Social Santiago Masarnau da Sociedad de San Vicente de Paúl também se beneficia com o trabalho da fundação.

La pobreza alimentaria, un problema de todos

A etnia cigana recebe ajuda graças à colaboração firmada em junho passado com a Fundación Secretariado Gitano. Porque a COVID-19 piorou a situação de um grupo que por si só já era vulnerável. Antes da pandemia, 86% da população cigana vivia abaixo da linha da pobreza.

Com o desenvolvimento do Fundo de Emergência Social #JuntoAlasFamiliasGitanas, 70.000 euros serão distribuídos entre 29 localidades de 13 Comunidades Autônomas, o que permitirá chegar a cerca de 700 famílias ciganas. Finalmente, a Federación de Banco de Alimentos lançou uma campanha de arrecadação no Dia Mundial do Voluntariado; e a World Central Kitchen se encarregou de distribuir 30.000 ceias de Natal entre os grupos mais afetados pela COVID.

Como a pobreza é medida?

Embora a privação material severa e a pobreza sejam coisas diferentes, a primeira serve para nos dar uma ideia do que a segunda significa. A PMS «inclui aquelas pessoas que vivem em agregados familiares que não atendem quatro ou mais conceitos, artigos ou elementos de consumo de um total de nove considerados básicos no território europeu», de acordo com a Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) e a Plataforma Europeia de Entidades Sociais, que trabalham e lutam contra a pobreza e a exclusão social nos países membros da União Europeia. Os elementos mencionados são os seguintes:

  • Não podem pagar uma refeição de carne, frango ou peixe pelo menos a cada dois dias.
  • Não têm condições de manter a casa em uma temperatura adequada.
  • Não conseguem cobrir gastos imprevistos.
  • Tiveram atrasos no pagamento das despesas relacionadas ao lar (hipoteca ou aluguel, contas de gás, luz…) nos últimos 12 meses.
  • Não podem se permitir sair de férias pelo menos uma semana por ano.
  • Não conseguem adquirir um telefone.
  • Não conseguem adquirir uma televisão.
  • Não conseguem adquirir uma máquina de lavar.
  • Não conseguem adquirir um automóvel.