No passado mês de julho se celebraram as semifinais dos prêmios à Inovação Social da Fundación MAPFRE no Brasil e nos demais países da América Latina. A semifinal europeia será em setembro, assim estarão definidos os nove finalistas de cada uma das categorias, para a final do próximo 17 de outubro em Madri.
TEXTO: RAMÓN OLIVER IMAGENS : ISTOCK
Os Prêmios Fundación MAPFRE à Inovação Social em colaboração com a IE Business School estão em seu reta final. Já se conhecem seis dos nove projetos finalistas desta primeira edição. Um deles será um dos grandes referentes do apoio ao empreendimento social em todo mundo. Três categorias, três zonas geográficas e 27 projetos em competição. Seu objetivo: identificar, apoiar e dar visibilidade às soluções inovadoras com um alto potencial de impacto social nos meios nos que operam. Propostas imaginativas para melhorar o mundo no que vivemos e com a globalização e a revolução tecnológica no centro de todas as miradas. Essas são as linhas mestres de um certame que conta com uma dotação de 30.000 euros para cada uma das três categorias, além de serviços adicionais como apoio, orientação e ajuda através de processos de mentoring e coaching para os ganhadores.
Durante o mês de julho celebraram-se as semifinais no Brasil e nos demais países da América Latina, mas não será até setembro esta fase na zona europeia. Uma vez conhecida a identidade dos nove projetos finalistas, todos eles disputarão a grande final em um evento em Madri, no próximo 17 de outubro. Durante o evento, os responsáveis destas iniciativas sociais terão a oportunidade de apresentar seus projetos ao júri, formado por especialistas de âmbitos tão diferentes como de seguros, saúde, docência, tecnologia, inovação social ou empreendimento. Entre os critérios de avaliação do júri para eleger os ganhadores da cada categoria, há aspetos como a inovação; viabilidade (técnica, econômica e organizacional); seu impacto social; a capacidade e experiência de sua equipe de gestão; a maturidade da ideia, acreditada por testes e provas piloto e também os aspetos jurídicos associados.
Este certame não pretende apenas premiar as boas propostas ou ideias brilhantes, mas também a capacidade real para colocar em prática e conseguir assim, um impacto tangível na vida das pessoas. O que procura? Iniciativas sociais inovadoras que resolvam problemas específicas e melhorem as condições de vida dos grupos aos que estão dirigidas.
Semifinal:
933 projetos apresentaramse a esta primeira edição dos prêmios à Inovação Social da Fundación MAPFRE, dos quais 462 conseguiram certificar que cumprem todos os requisitos exigidos para esta competição. Depois das fases iniciais, somente 27 projetos, nove por cada zona, chegam as semifinais. A região da LATAM foi a primeira em celebrar esta fase de classificação. O evento foi celebrado no dia 12 de julho no Museu Interativo de Economia da Cidade do México. Três projetos chilenos, dois colombianos, dois mexicanos, um peruano e um equatoriano foram apresentados para optar o prêmio final em Madri. Projetos muito diferentes, mas com a responsabilidade social, economia verde, sustentabilidade, inovação tecnológica e inclusão como elementos comuns.
No dia 26 de julho, foi celebrada a semifinal brasileira na cidade de São Paulo. A decisão desta edição também foi difícil, dada a qualidade dos projetos.
Os seis finalistas, junto aos três ganhadores da semifinal europeia, estarão na final de outubro. A apresentação de seus projetos será muito importante para a decisão final. Por isso, receberão coaching para ajudar a comunicar e desenvolver da forma mais efetiva suas propostas. Além disso, o evento será muito interessante para conhecer potenciais investidores e financiadores. Portanto, também inclui o papel de relações públicas para potenciar a visibilidade de seus projetos.
OS PROJETOS
AMÉRICA LATINA
Categoria: Melhoria da saúde e tecnologia digital (e-Health): Oliber (Chile)
Comer, escrever, escovar os dentes… qualquer atividade cotidiana é um sacrifício, para as pessoas que sofrem uma atrofia nas mãos por um acidente ou doença. Um problema ao que as estudantes chilenas querem dar uma solução, através de inovadoras órteses que melhoram a autonomia e a qualidade de vida destas pessoas. As órteses são uma melhor alternativa às clássicas próteses, que muitas vezes apresentam problemas de adaptação ou inclusive dor. Basicamente, a diferença entre ambas é que as órtese são peças que facilitam a realização de atividades, e as próteses substituem uma parte do corpo.
O objetivo de Oliber é que as pessoas com problema nas mãos não tenham limitações. As órteses envolvem as mãos do paciente e estão realizadas em um material que não danifica a pele, nem provoca outros inconvenientes. Contam com ímans que permitem recolher objetos de vários tamanhos.
Para Camila Vivallo, uma das integrantes do projeto, não existe nada como Oliber no mundo. “Um produto de baixo custo e muito fácil de utilizar, que não precisa treinamento, intuitivo e prático. Atualmente, não há nada como o Oliber no mercado. Além disso não é apenas mais barato, mas também prático. Na maioria das vezes, são muito difíceis de usar, são mais pesadas, e os usuários deixam de usar as próteses. Nosso produto foi avaliado por especialistas que não acreditam que ninguém tenha pensado algo como isto antes”, ela conta orgulhosa.
A equipe do Oliber afirma que seu projeto “está mudando a vida das pessoas, com uma solução de baixo custo a um problema que não era resolvido ou não era acessível. Especialmente para 70% da população mundial, que tem poucos recursos e não tem acesso a soluções como estas”.
Camila considera que a Fundación MAPFRE realiza um grande trabalho apoiando a inovação social, “e poucas entidades realizam esse trabalho”. Por isso, quando surgiu a oportunidade de apresentar seu projeto a este prêmio, não duvidaram nem um segundo. “Necessitamos esse incentivo para continuar crescendo e levar nossa solução a todo mundo. Ao mesmo tempo, recebemos as ferramentas e o apoio necessário para continuar. Estamos muito agradecidas de ter chegado até aqui, nunca imaginamos isto”, afirma.
Categoria: Inovação de seguros: Comunidad 4UNO (México)
“No México existem aproximadamente 2,5 milhões de empregadas domésticas, das quais 60% ajuda toda sua família e 98% não tem acesso a serviços financeiros formais, por exemplo, poupança, crédito, previdência social e seguro. Além disso, 95% dos empregados domésticos são mulheres e, destas, 80% sustenta economicamente suas famílias. As empregadas domésticas e suas famílias são muito vulneráveis aos desastres financeiros, já que seus membros não contam com seguro, nem ferramentas de poupança, e menos de atendimento médico ou educação financeira, nem são elegíveis para receber um crédito”. Este panorama explicado por Miguel Duhalt, um dos integrantes do projeto, é o que motivou a criar a Comunidade 4UNO.
O serviço é contratado pelo cliente e o processo é tão fácil como eleger o plano mais adequado às circunstâncias de cada caso, cadastrar o nome e o número de telefone da empregada e pagar com um cartão de crédito. Há quatro planos disponíveis, que oferecem diferentes benefícios associados: seguro de acidentes, consultas médicas, descontos em farmácias ou a possibilidade de obter um cartão bancário de débito.
O funcionamento é muito simples, tal e como conta Miguel; “por menos de USD $ 53, o cliente de uma empregada doméstica compra uma adesão anual de cobertura de acidentes de trabalho, consultas médicas gratuitas, conta bancária e um cartão de débito que permite aos empregados receber pagamentos eletrônicos, através da plataforma. Isto ajuda aos trabalhadores a começar a receber um salário regular, o qual permite gerar um perfil de crédito e eventualmente, aceder ao crédito formal. Também inclui uma conexão automática com um fundo de aposentadoria, que permite ao empregado doméstico poupar semanalmente para a aposentadoria. As trabalhadoras domésticas também podem aceder a cursos online sobre educação financeira. Tudo isto pode ser possível, a 4UNO está ligada digitalmente às maiores instituições financeiras do México. Além disso, a 4UNO abre novos mercados e oferece produtos existentes e de baixo custo a uma população abandonada”.
Desta forma, a Comunidade 4UNO está conseguindo uma melhoria importante da qualidade de vida destas pessoas e, tanto elas como seus clientes ganham em tranquilidade e empoderamento. O projeto já ajudou milhares de empregadas domésticas e suas famílias a resolver problemas como acidentes e doenças; a gerar um perfil de crédito e a poupar para emergências e para sua aposentadoria.
Categoria: Mobilidade e segurança viária: Lazarillo (Chile)
O que mais motivou René Espinoza Jiménez a apresentar seu projeto foi o tema de inovação social. Pois para ele, o maior valor de seu projeto é o impacto social.
René, diretor executivo de Lazarillo, conta que o objetivo de seu app é ajudar a melhorar a autonomia das pessoas com deficiência visual a realizar trajetos e, principalmente, para encontrar serviços e poder entrar, através de uma tecnologia de posicionamento interior.
Este aplicativo guia para celular permite a pessoas cegas e com pouca visão, conhecer em todo momento sua localização atual e obter informação sobre os pontos de ônibus, bares, bancos, restaurantes, cruzamentos de ruas e outros serviços. Também facilita a localização de destinos específicos, bem como a obtenção de indicações sobre como chegar ao destino, com diferentes meios de transporte.
E o mais importante, o projeto é autossuficiente. “Lazarillo tem a exclusividade de ser um aplicativo gratuito em todo mundo, graças a um modelo de negócio criado ad hoc para ser sustentável: o sistema é vendido a empresas e organizações publicas, o qual permite que estas organizações melhorem sua acessibilidade e também oferecer um serviço para enviar ofertas comerciais ou informação a seus clientes de forma localizada”, afirma.
Lazarillo procura unir as pessoas com o lugar onde vivem, ajudando a melhorar sua autonomia e independência. O objetivo de seus promotores é ser a principal plataforma de informação para pessoas com deficiência visual. O aplicativo, que atualmente está disponível nos idiomas inglês e espanhol, já funciona em todo mundo, já que, além de seus próprios recursos, utiliza os principais bancos de dados internacionais para alimentar seus mapas.
BRASIL
Categoria: Melhoria da saúde e tecnologia digital (e-Health): Beaba
Poucas palavras provocam tanta inquietação e temor como «câncer». Sobre esta grave doença diariamente é gerada uma grande quantidade de informação, mas também de desinformação que não ajuda a pacientes e familiares durante o tratamento, especialmente quando os doentes são crianças e adolescentes. Beaba tenta desmitificar o câncer, oferecendo informação clara, objetiva e otimista sobre a doença e seu tratamento. Tudo em uma linguagem e códigos adaptados ao público infantil e juvenil.
Tal e como conta Simone Lehwess Mozzili, presidenta e fundadora, o projeto trata um tema tão difícil como o câncer, “mas de forma inovadora”, afirma, “utilizando desenho e arquitetura de informação para desmitificar a doença e o tratamento. Por exemplo, ao invês de falar de que o cabelo cai por causa da quimioterapia que é forte, explicamos que cai porque as células do cabelo se multiplicam tão rapidamente como as células cancerígenas, e muitos medicamentos ainda não diferenciam as células do tumor. Com isso, o paciente entende, aprende e demonstra um maior compromisso no tratamento, quando sabe o que está acontecendo»
Este projeto internacionalmente reconhecido está integrado por pacientes e ex-pacientes de câncer, profissionais da área da saúde, criativos e empreendedores sociais. Toda a informação foi preparada por uma equipe de profissionais da área da saúde, criativos, programadores e o mas importante, por pacientes, fato que para Simone é um elemento inovador na área da saúde. “A informação não está centrada apenas no paciente, mas também é criada pelo paciente, em como gostaria de ser informado”, afirma.
Nos quatro anos de atividade, esta iniciativa já alcança 500 mil pessoas e 15 mil pacientes foram beneficiados. Seu aplicativo Alpha Beat Cancer alcançou as 13 mil descargas e foram distribuídos quatro mil livros. O app está disponível nas principais plataformas e conta com 20 mini-jogos que oferecem informação sobre o câncer e seus tratamentos de forma lúdica e, ao mesmo tempo, rigorosa.
Categoria: Inovação de seguros: Pluvi.on
Pluvi.on é um sistema de monitoramento climático que oferece informação precisa e prognósticos fiáveis em tempo real, conseguindo assim um grande impacto social e ambiental. O sistema, baseado no gerenciamento de dados, tem o objetivo de diminuir as perdas causadas por situações climáticas extremas, como inundações e deslizamento de terra. Para isso, o Pluvi.on utiliza supercomputadores capazes de informar com um alto nível de precisão, se vai chover em uma cidade, bairro e até em uma rua específica. O sistema reúne e processa grande quantidade de dados, aprendendo conforme trabalha e melhorando progressivamente suas predições.
Para Diogo Tolezano, CEO da Pluvi.on, o mais importante é que o sistema de sensores climáticos em tempo real desenvolvido, pode enviar avisos de inundações e deslizamento de terra diretamente à população. “Contar com esta informação no celular, especialmente para quem vive em zonas vulneráveis, permite ir a tempo a zonas seguras, evitando riscos e inclusive salvando alguns de seus bens, reduzindo assim seus prejuízos”, afirma.
O propósito da empresa, se ganha o prêmio que a Fundación MAPFRE oferece, é instalar mais cem estações climatológicas nas áreas vulneráveis de São Paulo. “Assim, ajudaremos a mais de dois milhões de pessoas a receber aviso sobre os riscos e poder salvar seus bens e em alguns casos suas vidas”, diz Diogo, e acrescenta, “ganhar este prêmio à inovação social seria uma forma de multiplicar nosso impacto, ajudando a ampliar nossa rede de sensores e instalar o sistema de alerta em outras regiões”.
Esta iniciativa de sucesso foi a primeira start-up convidada pelas Nações Unidas para fazer parte da United Smart Cities, uma plataforma global que apresenta soluções para melhorar a vida em diferentes cidades no mundo todo.
Categoria: Mobilidade e segurança viária: Zumpy
A mobilidade compartilhada também pode cumprir uma missão social. Zumpy é um app que ajuda a reduzir a poluição, a falta de segurança e as despesas de deslocação dos usuários. Esta plataforma de carsharing nasce com a certeza de que é possível um futuro colaborativo sustentável, ecológico e sensível às necessidades do meio ambiente.
“Quando soubemos do prêmio à inovação social da Fundación MAPFRE, imediatamente, nos interessamos em participar, por ser uma instituição reconhecida mundialmente pelo seu apoio aos projetos de impacto social, e pela opção de divulgar o Zumpy mundialmente”. Com estas palavras, André Henrique Correia de Andrade, sócio fundador desta iniciativa, conta como foi apresentar-se a esta convocação, “estamos muito orgulhosos de representar o Brasil na final em Madri”.
Zumpy é um projeto sustentável que contribui a reduzir as emissões de CO2 e aumentar as opções de deslocação dos usuários, além de significar uma poupança significativa, tanto para condutores como para viajantes, em suas despesas de deslocação. Sua solução reduz a quantidade de veículos nas ruas e diminui a super-população do transporte público, facilitando que as pessoas com o mesmo destino se desloquem juntas com segurança. “Conseguimos reduzir as despesas de transporte e também diminuir a quantidade de emissão de poluentes gerados pela deslocação diária”; afirma.
Para André, Zumpy não é mais um app; “a grande diferença do aplicativo é a segmentação com filtros de segurança e a ferramenta, que permite gerar o transporte compartilhado só entre amigos do Facebook, grupos reduzidos e grupos de empresas que o próprio usuário cria no app. Por exemplo, as mulheres podem optar por eleger só viajar com outras mulheres. Além disso, o Zumpy é o único aplicativo que pode medir, com métodos homologados, quanto CO2 deixou de ser emitido, com o uso do transporte compartilhado”, explica. “Atualmente, já conseguido organizar mais de 525 mil transportes compartilhados e diminuir a emissão em mais de 6.500 toneladas de CO2 para o meio ambiente”, comenta orgulhoso.