O envelhecimento da população é um fenômeno tão inegável quanto generalizado em todo o continente europeu. Dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) confirmam que o número de pessoas com mais de 65 anos na União Europeia já ultrapassa 20% da população total. Menos nascimentos e o aumento da expectativa de vida são as razões por trás desse fenômeno demográfico. Uma realidade que, no entanto, não tem qualquer relação com a situação laboral de um grupo que continua a ver-se sistematicamente afastado do mercado de trabalho: o dos sêniores.

TEXTO: RAMÓN OLIVER

O II Mapa do Talento Sênior-Espanha no contexto europeu, elaborado pelo Centro de Pesquisa Ageingnomics da Fundación MAPFRE, foi elaborado a partir de uma amostra representativa composta por sete países: Alemanha, França, Itália, Espanha, Polônia, Suécia e Portugal. Os países selecionados pertencem aos três grandes grupos geográficos europeus (norte, centro e sul) e a sua população total abrange mais de 70% de toda a UE.

Gestão de talentos sêniores país por país

Entre as principais conclusões deste estudo, deve-se destacar que:

  • A Alemanha tem a maior proporção de sêniores na UE sobre o total de empregados. Ademais, suas empresas do setor automotivo são referência em boas práticas.
  • Portugal conta com elevadas porcentagens de trabalhadores sêniores autônomos e empresas com sofisticados programas de incentivo salarial a pessoas com mais de 50 anos.
  • A França está muito avançada em igualdade de gênero no que diz respeito ao emprego sênior. Suas multinacionais do setor financeiro se destacam por promover programas age friendly.
  • A Itália apresenta o maior crescimento no emprego de sêniores na UE. Destacam-se as boas práticas de formação de sêniores, tanto em reskilling como em upskilling.
  • A Polônia é o país, dentre os analisados, em que o emprego de mulheres sêniores mais cresceu.
  • A Suécia é um modelo a seguir em todos os indicadores e apresenta as melhores taxas de atividade e emprego para o grupo sênior em toda a UE.
  • A Espanha melhorou seus dados tanto de emprego quanto de empreendedorismo. No entanto, nossos números ainda estão longe dos suecos (taxa de emprego de 65% na Espanha contra 85% na Suécia) e dez pontos abaixo da média europeia. Analistas do centro de Pesquisa Ageingnomics estimam que a redução dessa lacuna permitiria um aumento do PIB nacional entre cinco e dez pontos.
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O caso da Espanha

Na Espanha, um em cada três desempregados tem mais de 50 anos. Metade desses trabalhadores estão desempregados há bastante tempo. Além disso, a Espanha é o país que apresenta a maior taxa de desemprego feminino sênior. Números que não condizem muito bem com os discursos de inclusão e de luta contra a discriminação etária lançados insistentemente por governos e empresas. E, sobretudo, dados que mostram um desperdício de talento que, como ressalta Íñigo Sagardoy, professor de Direito do Trabalho da Universidade Francisco de Vitória e presidente da Sagardoy Abogados, «a Espanha não pode pagar».

Autônomos e Empreendedores

O trabalho autônomo, seja como freelancers ou como empresários, tem surgido como uma das principais alternativas que os profissionais veteranos têm para reativar as suas carreiras e atestar a sua experiência. Especialmente na Espanha, onde as taxas de empreendedorismo dos sêniores (55-64 anos) são as mais elevadas do continente. Um fato que mostra que os sêniores espanhóis são os europeus mais dispostos a empreender. Dispostos ou… obrigados? A grande maioria recorre à fórmula do autoemprego mais por necessidade do que por vocação empresarial.

Vantagens dos sêniores

Para uma empresa, ter trabalhadores experientes em seu quadro de funcionários traz muitas vantagens. Capacidade de resiliência, capacidade analítica, pensamento crítico, tolerância à pressão, comprometimento ou o simples —mas decisivo— fato de ter vivido muitas experiências e situações no passado são apenas algumas delas. No outro extremo, uma certa rejeição à mudança, uma suposta inflexibilidade e a exclusão digital aparentemente intransponível costumam ser as razões apontadas para justificar as baixas taxas de contratação no segmento 50+.

Muitas dessas objeções, no entanto, decorrem de estereótipos culturais profundamente enraizados que se perpetuam nas empresas. Alguns clichês que fazem muito estrago pois, além de não serem sustentados por evidências, aumentam a diferença entre as gerações em vez de tentar fazê-las somar.

A taxa de emprego do grupo sênior espanhol situa-se dez pontos abaixo da média europeia. Especialistas pedem medidas para impulsionar seu crescimento

Existe mesmo uma brecha digital?

A suposta incapacidade de gestão em ambientes digitais dos sêniores é uma das maiores armadilhas que o mercado de trabalho espanhol armou para si mesmo. Por um lado, as empresas lamentam que não haja especialistas suficientes para cobrir as vagas de perfis tecnológicos que a revolução digital demanda. Mas, por outro, não parecem dispostos a contemplar outras opções a não ser ocupá-los com perfis Z ou, no pior dos casos, millennials. Ou seja, por um lado, exige-se flexibilidade dos sêniores, mas, por outro, é o mercado de trabalho que é incapaz de demonstrá-la, recusando-se a tirar-lhes o rótulo de «analógico».

Cada vez mais áreas insistem que a solução para esta equação passa por ampliar o espectro geracional e por proporcionar uma boa formação de atualização tecnológica aos sêniores, de forma a adaptar os seus perfis às novas necessidades digitais. Algo que, ademais, enriqueceria muito as abordagens deste tipo de projeto ao incorporar visões diferentes das habituais neste setor.

As próprias empresas são as primeiras a perceber a imensa riqueza de talentos que estão perdendo ao virar as costas para os grisalhos. Nesse sentido, Íñigo Sagardoy incentiva as empresas a liderar uma mudança de modelo através do exemplo. «As boas práticas empresariais são um motor muito eficaz para que empresas e organizações de todo o tipo vejam no talento sênior um aliado que habitualmente as torna mais competitivas e produtivas».

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Recomendações

O estudo elaborado pelo centro de Pesquisa Ageingnomics da Fundación MAPFRE oferece uma série de recomendações para melhorar a situação laboral do grupo sênior na Espanha.

  1. Um grande pacto nacional para a promoção do emprego sênior que corte pela raíz o desperdício de talento dos espanhóis. Este compromisso abrangeria os principais agentes empregadores da Espanha, desde as administrações públicas até os partidos políticos, sindicatos, grandes empresas e associações empresariais.
  2. Aprovação de um pacote legislativo para o trabalho sênior que melhore a fórmula de conciliação da pensão e do trabalho, penalize a aposentadoria antecipada e a pré-aposentadoria, e promova o reconhecimento expresso dos direitos de igualdade geracional, bem como o combate ao preconceito de idade.
  3. Medidas de responsabilidade corporativa com a adoção, extensão e promoção urgente de programas na área do talento sênior.
  4. Mudanças regulatórias e culturais que permitam prolongar a atividade laboral. Todas as instâncias devem entender que trabalhar mais anos vai se tornar uma necessidade inevitável, positiva para a saúde física, mental e econômica das pessoas e benéfica para toda a sociedade.
  5. Na Espanha, é urgente alcançar melhores índices de emprego sênior nos grupos com mais de 60 anos, conseguir um número maior de mulheres sêniores ativas no mercado de trabalho e estender a fórmula do trabalho de meio-período como forma de permanência no mercado.
  6. O emprego autônomo e o empreendedorismo sênior devem ser fomentados pelos poderes públicos com reduções fiscais atraentes, ajudas públicas e reduções nas contribuições dos trabalhadores autônomos.
  7. A formação ao longo da vida dos trabalhadores espanhóis com mais de 50 anos é uma pendência que as administrações, mas também as empresas, têm de superar através de novos programas de requalificação profissional (reskilling e upskilling).
  8. Exige-se a organização e implementação de um ativismo sênior na Espanha, promovido desde a sociedade civil, que ajude a dar visibilidade a este grupo e denuncie e inviabilize ações flagrantemente idadistas dos governos e das empresas.
  9. Por fim, os próprios sêniores devem estar cientes de que, por mais atraente que pareça antecipar a idade oficial de aposentadoria, é economicamente inviável e prejudicial à sua saúde física e emocional parar de trabalhar quando ainda se tem uma longa vida pela frente.