O relatório sobre segurança dos motociclistas publicado recentemente pela Fundación MAPFRE enfatiza a necessidade de tomar medidas urgentes para frear os acidentes dos veículos de duas rodas.

TEXTO CANDELA LÓPEZ FOTOS THINKSTOCK

 

Uma pessoa que reside na Cidade do México pode perder ao ano 209 horas por culpa dos congestionamentos: quase nove dias. A capital mexicana, com aproximadamente nove milhões de habitantes é, de fato, a cidade mais congestionada do mundo, de acordo com o estudo feito todos os anos pela multinacional TomTom, seguida de Bangkok, Istambul, Rio de Janeiro e Moscou. Ou seja, entre as cinco metrópoles com mais engarrafamentos do mundo, duas estão na América Latina. Não é estranho: os grandes núcleos urbanos se transformaram nos motores e principais dinamizadores das economias latino-americanas. E não só concentram a maior parte da população, mas também a maior parte da produção econômica da região. Existem quatro megacidades com mais de 10 milhões de habitantes.

A América Latina tem uma taxa média de 38 motociclistas falecidos por cada milhão de habitantes; o triplo do registrado em Espanha, Portugal, Grã Bretanha e Estados Unidos.

Uma forma de perder menos tempo em congestionamentos é andando de moto pelas cidades. As vantagens deste veículo são evidentes: ágil, flexível, passa por onde o carro fica parado, estaciona onde este último não cabe, e ocupa um pouco mais que uma bicicleta, mas alcança velocidades muito superiores a esta. Por isso, entre outras razões, nos últimos anos, o número de motocicletas na América Latina aumentou de forma espectacular. Por exemplo, no Brasil, passou de 5,7 milhões em 2002 para mais de 21,4 milhões em 2013. Na Argentina, subiu 329% entre 1997 e 2009, ao passo que na Colômbia, durante o mesmo período, aumentou 400%. Na Venezuela, entre 2007 e 2013, aumentou 448%. Calcula-se que na região existem quase 30 milhões em funcionamento.

São dados coletados em um estudo recente realizado pela Fundación MAPFRE, Relatório sobre a segurança dos motociclistas na América Latina. Tendências internacionais e oportunidades de ação, que é uma revisão de um anterior publicado em 2013 e analisa os problemas decorrentes desse fenômeno. Sem dúvida, o mais importante é o aumento de mortos e feridos graves como resultado de acidentes de motocicletas, muito mais vulneráveis que os que viajam de carro. A metade de todas as mortes que acontecem nas rodovias do mundo ocorre entre os usuários menos protegidos das vias de trânsito: motociclistas (23%), pedestres (22%) e ciclistas (4%), de acordo com o último relatório sobre segurança viária da Organização Mundial da Saúde. Todos os dias, morrem 61 motociclistas vítimas de acidentes na América Latina.

E por que, apesar de ser muito mais perigoso, os latinoamericanos preferem as motos em vez do transporte público como alternativa ao carro? Basicamente, devido ao funcionamento deficiente do serviço. Com o crescimento disperso de muitas cidades, foi difícil manter uma rede de transporte coletivo cômodo, com frequências altas, tarifas baixas e tempos de viagem competitivos em comparação com outras opções. Em alguns trajetos, é mais barato e mais rápido se movimentar de táxi do que de ônibus.

Una alternativa al coche

Além de ser um meio de transporte particular, a motocicleta se tornou também um meio de transporte público, como um táxi. Um estudo realizado em 17 cidades colombianas afirma que o serviço de mototáxi oferece uma economia de tempo de, em média, 18 minutos em relação a uma viagem a pé, de 15 minutos em comparação com o transporte público urbano (ônibus), de 5 minutos de bicicleta e carro particular, e 4 minutos de táxi (Corporação Fundo de Prevenção Viária da Colômbia, 2013).

Por outro lado, as motos são baratas. Nas economias mais avançadas, este veículo é considerado como um artigo de luxo, uma forma de lazer e símbolo de um estilo de vida. Porém, nos países que ainda estão emergindo, é ainda um objeto meramente utilitário. Quando o país alcança um certo nível de desenvolvimento, a moto deixa de lado seu papel de meio de transporte principal e passa a ser um segundo veículo ou uma forma de lazer. Isso aconteceu nos Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial e, na Europa, após a Segunda Guerra. Em contrapartida, em alguns países latino-americanos, ainda é possível comprar motos em supermercados como produtos de consumo de primeira necessidade.

Este crescimento tão intenso de veículos de duas rodas surpreendeu também as autoridades na maioria desses países. O novo relatório da Fundación MAPFRE sobre a segurança dos motociclistas na América Latina encontrou grandes melhorias com respeito ao realizado em 2013, tanto em legislação como em melhoria de infraestruturas ou campanhas de prevenção e conscientização de acidentes, mas ainda há muito por fazer. Isso é demonstrado pelas cifras do estudo: A América Latina tem uma taxa média de 38 motociclistas falecidos por cada milhão de habitantes; o triplo do registrado em Espanha, Portugal, Grã Bretanha e Estados Unidos. Se a região tivesse a mesma taxa média que esses países, durante o ano 2013, teriam sido salvas 17.200 vidas.

Somente nos últimos cinco anos, o número de motociclistas que faleceram na América Latina pode ter aumentado 58%. Segundo os especialistas que elaboraram o estudo, é preciso atacar o problema a partir de várias frentes. Por exemplo, estabelecer novas leis que obriguem a formação dos motociclistas e a homologação de elementos de segurança como os capacetes, campanhas de sensibilização para que essas leis sejam aplicadas ou campanhas de conscientização para uma circulação mais segura. Com uma atuação rápida, muitos cidadãos serão salvos.

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Paixão de juventude

Sabe-se que a maioria dos jovens adora as motos. E que, em geral, não têm muita consciência sobre o risco. Por isso, são também os mais propensos a sofrer acidentes: de acordo com os dados coletados em um estudo recente da Fundación MAPFRE sobre a segurança dos motociclistas na América Latina, o maior número de falecidos está na faixa dos 20 aos 30 anos.

O relatório lembra que a idade que uma pessoa começa a conduzir veículos é um dos fatores-chave na segurança viária. E ainda mais no caso dos veículos de duas rodas, que são mais complexos para conduzir que outros tipos de veículos mais estáveis. Os especialistas recomendam harmonizar as idades de acesso às carteiras de motorista, para levar em conta a necessidade real e a maturidade dos motoristas.

A medida mais efetiva neste sentido é a progressividade na concessão de carteiras de habilitação, que estabelece idades mínimas para conduzir motos, considerando a dificuldade para conduzir de cada modelo. Isso permite que os jovens adquiram experiência antes de conduzir as mais perigosas.