O incêndio dos grandes centros “El Siglo” em 1932
TEXTO: ANA SOJO Curadora do Museu do Seguro da Fundación MAPFRE
Uma das peças mais originais guardadas no Museu do Seguro é o relatório do incêndio dos grandes centros comerciais “El Siglo” em Barcelona.
Este grande centro comercial, cuja origem data de 1881, situava-se na Rambla de los Estudios, na rua Xuclá e na Plaza del Buen Suceso, e ocupava uma superfície útil de 25.083 m2 . Sua história pode ser considerada como uma referência na implantação dos grandes centros comerciais na Espanha, com mais de 60 seções especializadas, entre as quais, desde 1910, encontrava-se um café-bar e uma mercearia.
O trágico incêndio iniciou-se no dia de Natal de 1932 por volta das 11 da manhã e foi causado por um curtocircuito que se iniciou, provavelmente, pelo mau funcionamento de um trem de brinquedo que foi colocado em uma vitrine. Duas horas após o início do incêndio pouca coisa restava dos edifícios na parte central do estabelecimento e nas ruas Xuclá e Buen Suceso, e as mercadorias e produtos industriais poderiam ser consideradas totalmente perdidas. A avaliação dos danos pelos peritos pôde ser realizada principalmente graças à recuperação de parte dos registros contábeis do edifício.
Felizmente os grandes centros eram assegurados por 22 empresas, conforme descrito no relatório elaborado para avaliar os danos causados pelo incêndio, feito por Don Narciso Masoliver Ibarra, engenheiro industrial, e Don E. Pedro Cendoya, arquiteto, peritos das seguradoras e dos armazéns, respectivamente.
A elaboração do relatório, que contava com 249 páginas, 22 planos e 41 fotografias, em apenas cinco meses, tornou possível a rápida solução que as companhias seguradoras desejavam dar ao assunto. Os danos causados pelo incêndio foram estimados em 11.201.334 pesetas, (equivalentes a 23 milhões de euros ou 3.825 milhões das antigas pesetas). 33% desta quantidade correspondiam aos edifícios assegurados e os outros 67% ao mobiliário industrial e mercadorias
Duas horas após o início do incêndio pouca coisa restava dos edifícios na parte central do estabelecimento
No dia 27 de dezembro de 1932, o jornal La Vanguardia publicou uma notícia que ocupava uma página inteira, que reproduzimos nesta página, sobre estas linhas, referente ao incêndio, indicando o impacto que o incidente teve na época e como isso afetou sociedade catalã:
[…] Os grandes centros El Siglo, S. A., foram destruídos por um enorme incêndio. Aquele popular comércio que, em plenas Ramblas, era um expoente da potencialidade mercantil catalã, tornou-se naquele domingo, um pasto para as chamas, que em pouco mais de duas horas consumiu tudo o que havia sido alcançado graças ao enorme esforço de muitos anos e de um grande espírito de equipe. A cidade viveu horas de dor sincera e legítima[…]
[…] O fogo foi arrasador e não respeitou dependência nenhuma. Assim, quando os bombeiros, com seu esforço perseverante e heróico, conseguiram localizar as chamas, impedindo a sua propagação, os três edifícios nos quais as lojas instalavamse não eram nada mais do que uma imensa fogueira que, em sua fúria destrutiva, não só destruía uma grande empresa, mas também fez desaparecer o comércio do qual mais de mil famílias pobres tiravam seu sustento […]
Fonte: http://hemeroteca.lavanguardia.com
Um incidente literário
Este acontecimento inspirou alguns novelistas, como Care Santos, ganhadora da edição 2017 do prêmio Nadal, que escreveu a novela posteriormente transformada em série de televisão Habitaciones Cerradas , que tivemos o prazer de receber no Museu do Seguro enquanto buscava informações para a criação de sua obra.
Em seu blog, a autora conta histórias interessantes sobre as lojas, como a existência das jovens empregadas conhecidas como sigleras:
O escritor Sempronio, cronista da cidade de Condal, descreveu como, todos os dias, uma multidão esperava para ver as trabalhadoras saindo do local após o expediente. Não só eram conhecidas por serem bonitas e educadas, mas também por usarem uniformes e por serem selecionadas dentre a classe média barcelonesa, ou seja, eram sinônimo de excelência. Não em vão é dito que entre as funcionárias do estabelecimento encontravam-se personalidades, como a esposa do futuro presidente Josep Tarradellas, Antònia Macià.
Também destaca que os centros El Siglo foram pioneiros em muitos serviços que hoje nos parecem normais:
[…] desde a venda por correio até a existência de uma cafeteria no interior do edifício. No “El Siglo” as senhoras podiam escolher os tecidos para seus vestidos e ordenar sua confecção no ateliê de costureiras, instalado no mesmo edifício. Também era possível tirar fotos, escrever uma carta, visitar uma exposição de pintura, vestir-se de luto ou adquirir cristais finos.
Fonte: http:// habitacionescerradas.blogspot. com.es/2011/02/grandesalmacenes-el-siglo-un-bazarque.html
Informação prática do Museu do Seguro
Localizado em Madrid, no passeio de Recoletos, 23, conta com 600 peças expostas e um total de 1.300 conservadas nos fundos da instituição. Ademais, todas elas encontram-se disponíveis na versão virtual do museu em www.museovirtualdelseguro.com.
Dispomos de visitas guiadas gratuitas para grupos com agendamento prévio pelo telefone + 34 916 025 221