Depois de passar por Barcelona, a Fundación MAPFRE acolhe a retrospectiva Bill Brandt, considerado um dos fotógrafos britânicos mais influentes do século XX. A exposição pode ser visitada de 3 de junho a 29 de agosto de 2021 nas salas do Paseo de Recoletos em Madrid.
TEXTO: ÁREA DE CULTURA DA FUNDACIÓN MAPFRE
IMAGEM: © BILL BRANDT / BILL BRANDT ARCHIVE LTD.
Hermann Wilhelm Brandt nasceu em Hamburgo em 1904, em uma família rica de origem russa. Depois de viver em Viena e Paris, se mudou para Londres em 1934. Lá, em um ambiente de crescente animosidade contra a Alemanha causada pela ascensão do nazismo, tentou apagar todos os vestígios de suas origens, chegando até a afirmar que era natural da ilha britânica. Esse ocultamento e a criação de uma nova personalidade envolveram sua vida em uma aura de mistério e conflito que refletiram diretamente em sua obra. Suas imagens buscam construir uma visão do país que ele abraça como seu, mas não do país real, e sim da ideia do mesmo que ele forjou durante sua infância com leituras e histórias de seus familiares.
Assolado pela tuberculose quando jovem, parece que foi nos sanatórios suíços de Agra e Davos, para onde foi enviado para se recuperar, que começou o seu interesse pela fotografia e muitas das suas descobertas literárias: Fiódor Dostoievski, Gustave Flaubert, Franz Kafka, Guy de Maupassant, Ernest Hemingway e Charles Dickens. Depois de passar alguns anos na Suíça, ele se mudou para Viena para se submeter a um novo tratamento para tuberculose por meio da psicanálise. Todos esses aspectos impregnaram sua obra e sua vida com um ar pós-romântico. Suas fotografias sempre parecem estar no limite, pois causam atração e rejeição ao mesmo tempo e, como ressalta Ramón Esparza, curador da exposição, é possível notar uma relação com o unheimlich, um termo usado pela primeira vez por Sigmund Freud em 1919.
O unheimlich – que normalmente é traduzido como «o estranho», «o sinistro», «o que causa inquietação» e que, nas palavras de Eugenio Trías, «constitui uma condição e um limite do belo» – é um dos traços característicos que encontramos ao longo de toda a sua trajetória. As teorias psicanalíticas, uma das bases fundamentais em que se apoiava o surrealismo, permearam a cena cultural da capital francesa durante a década de 1930. Foi nesta mesma década que Brandt se mudou para Paris junto com sua primeira esposa, Eva Boros, para trabalhar no estúdio de Man Ray como assistente. Sem participar ativamente de nenhum dos grupos históricos de vanguarda, o artista absorveu muitas das ideias que fervilhavam em uma Paris onde abundavam jovens artistas, muitos deles imigrantes, em busca de uma posição no mundo profissional.
Quase todas as suas imagens, tanto as de caráter mais social de antes da guerra como as da fase posterior, mais «artística», mantêm uma forte carga poética e aquela aura de estranheza e mistério tão característica na qual, como na sua vida, realidade e ficção estão sempre misturadas. Partindo dessas ideias, a exposição percorre, através de 186 fotografias do próprio Bill Brandt, os principais âmbitos de sua produção visual, que engloba todos os gêneros da disciplina fotográfica: reportagem social, retratos, nus artísticos e paisagens. Do mesmo modo, evidencia a relação da obra do fotógrafo britânico com as teorias do surrealismo já mencionadas.